sexta-feira, 22 de abril de 2011

Psicanálise dos Contos de Fadas - Chapeuzinho Vermelho ou a violência sexual infantil no mundo de hoje

A Infância e suas ânsias

"- Para que essas olhos tão grandes? - Pra te ver melhor...

- E essas orelhas tão grandes? - pra te escutar melhor, querida...

- E essa boca enorme? é pra te comer melhor, minha netinha...

E o Lobo a devorou..."

Charles Perrault compilou esta história do ideário de uma aldeia francesa no sec. XVII. Não existe um final feliz, nem um moral da história, talvez exista apenas um modo de proteger o universo infantil de um irremediável contato precoce com a própria sexualidade. A paixão pela fantasia sempre começa muito cedo. A psicanálise sente-se a vontade no terreno das narrativas, afinal, trocando em miúdos, uma vida é uma história, e o que contamos dela, é sempre algum tipo de ficção.

Os lobos continuam a solta, seja na pele de figuras parentais da tenra infância, seja na adolescência, ou mesmo na idade adulta do universo feminino, sob a forma traumática de abuso, assédio sexual, estupros, atentando violento ao pudor, não importa o crime, mas o impacto que dilacera. Chapeuzinho olha para o lobo, fixamente, entre intrigada e fascinada, hipnotizada. Há uma mútua sedução implicita. O que seduz a menina não é a beleza do lobo, são suas segundas intenções...

Um abismo separa um pedófilo da capacidade de compreensão da criança de quem ele se aproveita. Infelizmente, para as vítimas desse crime, é justamente essa inocência curiosa que seduz o abusador: o contraste entre a condição adulta de seu propósito e a infantilidade da vítima.

A moral da história, é tão breve quanto o conto infantil; não se deve ser desobediente e não se deve buscar nada com pessoas más... sabendo-se qual é o perigo e onde fica, o mundo se torna mais previsível e mais tranquilo... mas às vezes o perigo mora perto, em casa, no colégio,no play ground, na calçada...
Entre as tantas interpretações possíveis da história de Chapeuzinho Vermelho, pode-se pensar que ela seja alusiva ao potencial de sedução contido nas relações com os adultos. Sendo assim, é natural que estes, vividos até então, como protetores, revelem seu lado obscuro: alguém que segue sendo o mesmo, mas que mostra sua face selvagem. O LOBO é, em definitivo, essa versão do perigo doméstico, uma prova de que o papai bonzinho (ou o tio, irmão, parente ou amigo próximo), que deveria amar e proteger, pode tornar-se uma figura ameaçadora e temível.

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